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sexta-feira, 8 de abril de 2011

Realengo: um dia que o Brasil gostaria de apagar

Foto: Futura Press


Hoje me senti o mais impotente e submisso dos homens. Quimera de meu mais terrível pesadelo concretizou-se diante de meus olhos e, destroçado, meu coração sangrou, mercê de uma indescritível repugnância perpetrada por um louco.

Ao acordar, percebi que Realengo não é um simples adjetivo, mas um local onde treze crianças, treze mães e treze pais tiveram suas vidas perpetuamente destruídas. À busca de futuros dignos, alcançados através dos estudos, pequenos inocentes clamaram, com seus sangues, a toda uma estarrecida nação, que a mais absoluta ausência de segurança e dignidade foi capaz de ceifar seus bens mais preciosos.

O estado do Rio de Janeiro é reflexo do sucateamento estatal, onde uma população, tão prestimosa na hora de votar, é inumanamente esquecida em todos os seus direitos, inclusive os mais básicos. A Segurança Pública, não apenas no Rio, mas em todo o Brasil, gradativamente, tornou-se uma útopia. O estado do Rio, como garantidor, deveria zelar pela segurança daquelas crianças. Dentro desse contexto, aguardarei, ainda que ciente das chances serem mínimas, pela resposta os governates cariocas darão a sociedade e, principalmente, às famílias dessas crianças. 

Perdemos a esperança no futuro. Não há eufemismo para a falta de Deus e amor no coração dos homens. O ódio é corrosivo e dilacerante, paradoxalmente latente ao pulsar da alma e da indignação, ele encontra terreno fértil num mundo onde, há muito, a vida humana deixou de ser imensurávelmente valorada.

A causticante barbárie que, há tempos imemoriais, toma conta do mundo, hoje nos fez voltar os olhos para um bairro suburbano da Zona Oeste do Rio de Janeiro, nos fazendo crer que, mais do que nunca, o quão tênue pode ser a linha que nos separa da morte. Se nossas crianças não são respeitadas, o que dizer de nós?

Gostaria de, sinceramente, como cidadão, companheiro e, acima de tudo, como amigo, estender meus braços para essas famílias e, abraçado a elas, chorar pelo fato dessas mães e desses pais nunca mais vislumbrarem o prazer do doce clamor de seus nomes por seus amados filhos, além do beijo, do abraço e do carinho ou, simplesmente, o cúmplice e afetivo olhar, seguido de um apaixonante e cativante ‘eu te amo’.

Em um dia que me senti refém do mal, me disperso, desejoso que o dia de hoje não fosse mais que um terrível pesadelo, mas, mesmo assim, apenas um pesadelo.