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terça-feira, 21 de setembro de 2010

O exuberante e engenhoso teatro de Epidauro


Quando tinha, acredito eu, dezesseis anos tive, através de uma pequena excursão organizada por um professor de português que não ia muito com a minha cara, minha primeira experiência com o teatro. Tratava-se de uma adaptação de O Alienista, famoso conto de Machado de Assis. A peça era legal, mas um tanto séria e complexa para um bando de moleques que, naquele momento, muito pouco, ou quase nada, sabia sobre seu Machado. Se minha memória não me trair, o teatro chamava-se Barreto Júnior, localizado no bairro do Pina, aqui em Recife.

Os gregos se sobressaiam em, praticamente, todas as áreas do conhecimento. Hávia médicos, filósofos, escritores e, sim, senhor, arquitetos e teatrológos. Quem nunca ouviu falar de Ésquilo, não é verdade? Eu ainda fico fascinado com A República e, mais precisamente, o Mito da Caverna, do finado Platão. Isto, entretanto, pode ser que se trate de mero reflexo do que eu tenha escolhido para minha vida.

Há dois mil e quinhentos anos atrás, o vilarejo de Epidauro, situado sessenta quilômetros ao sul da cidade grega de Corinto, era um importante entreposto comércial e religioso.

O teatro de Epidauro foi, no decorrer do tempo, encoberto pela vegetação local, as colinas ondulantes e os oliveirais. Tal fato, por incrivel que pareça, o fez ficar conservado por todo esse tempo. Nada mais, nada menos, que seis metros de solo o protegeram por esse longo periodo. Foi apenas no século dezenove que um famoso arquiteto grego, chamado Panagis Kavadias, aguçado pela descrição do geógrafo grego Pausânias acerca do monumental explendor arquitetônico do teatro de Epidauro, o redescobriu sob as já citadas colinas, mais precisamente em 1881.

Após a descoberta, seguiram-se seis anos de escavações e muito trabalho árduo, findos os quais fez ressurgir o imponente teatro, quase intacto. Os arqueológos que trabalharam nas escavações afirmaram que ele havia sido contruido na primeira metade do século quatro AEC por Policleto, um jovem escultor e arquiteto grego, da cidade de Argos.

Quem, hoje, for fazer uma visita a Epidauro distinguirá, facilmente, as partes básicas do teatro, como a orquestra, uma área circular e plana, circundada por uma faixa estreita de mármore, onde realizavam-se as danças e o coro e, por trás dela, o palco, onde, atualmente, só restam as fundações. O chão é de terra batida e, no seu meio, há um altar. No começo, os atores se apresentavam para a platéia na orquestra e utilizavam, como cenários, pranchas triângulares e giratórias colocadas em todo o perimetro do teatro. Só depois é que o elenco passou a se apresentar no palco, fixando os cenários nas paredes do mesmo.

A notável acústica do teatro de Epidauro permite que um simples e discreto estalo com os lábios ou um pequeno suspiro seja ouvido até a última de suas vinte e uma fileiras ou, ainda, que os eventuais treze mil espectadores (essa é a capacidade atual do teatro) não perca um único fragmento de tais sons. Exagero? Não! Quando o homem usa sua inteligência para o bem, ele é capaz de feitos grandiosos, onde inúmeras gerações se lembrarão, com nostalgia, de todos os seus maravilhosos feitos.

Turistas descretes testemunham, por si próprios, tal fato. Muitos deles, sem qualquer amplificador de som, recitam poemas ou cantam no meio da orquestra e, ao perguntarem se ele ou ela foi ouvido claramente na última fileira, a resposta é que foi com a mais limpida nitidez.

Os estudiosos atribuem ao formato semicircular e anfiteatral do teatro de Epidauro essa excelente acústica. Os sermões realizados por Jesus Cristo a grandes multidões são capazes de atestar tal feito, visto que eles eram realizados, muitas vezes, em anfiteatros naturais, como encostas de colinas.

O acentuado declive em que as fileiras de assentos são dispostas faz com que a distância do palco às fileiras superiores seja reduzida, não permitindo que o som se enfraqueça até chegar às fileiras superiores. A isonômica dispersão do volume deve-se, também, ao fato de que as fileiras são corretamente distribuidas. A boa qualidade do mármore usado, a propagação do som após bater na superficie dura e compacta da orquestra, o silêncio e a brisa suave também contribuem para a perfeita acústica.

Festivais da fertilidade comemoravam a colheita, a vindima, a inexorável perspectiva da morte e a renovação da vida e, contemporâneo a esses festivais, surgiu o drama. As orgias, como também eram conhecidas tais festividades, eram consagradas a Dionisio, o mítico deus grego do vinho e da fertilidade. Como parte das celebrações havia as histórias, onde, a partir daí, estabeleceu-se três tipos de narrativa: a tragédia, a comédia e a sátira, as quais tinham forte apoio dos governantes locais com vistas a fortalecer seu poderio político. (Novidade!)

Com o passar do tempo, as orgias dionisicas deixaram de ter grande influência sobre as peças teatrais. Na busca de novos temas para suas peças, famosos teatrólogos gregos beberam na fonte da história e mitologia gregas. Com a, cada vez maior, popularidade das peças teatrais, surgiu a necessidade de teatros arquitetonicamente imponentes, como o de Epidauro.

As peças, de modo geral, eram compostas por um coro composto por, mais ou menos, 10 ou 15 pessoas e atores que, em cada cena, encarnando seus personagens, não passavam de três. Como sinônimo de "aqueles que respondem ao coro", os atores eram chamados de hipokritay que, como sabemos, passou a adjetivar, metaforicamente, aquelas pessoas que agem de uma forma, mas conduzem suas vidas de forma completamente oposta aquilo que, fervorosamente, defendem.

Na primeira métade do século vinte, o Teatro Nacional da Grecia traduziu as fomasas peças dos teatrologos gregos para o grego moderno, fomentando a produção de tais espetaculos em festivais anuais, como o da Epidauria, existente desde 1954. Companhias teatrais do mundo inteiro atraem turistas de toda parte para o teatro de Epidauro, onde são encenadas peças de teatrológos como Ésquilo, Eurípides e Sófocles.

Orgulho para a cultura grega, a qual brindou a humanidade com suas incauculáveis contribuições e descobertas, o teatro de Epidauro ressurge, tal como a Fenix, das cinzas e mostra que o teatro grego, ainda que antigo, está mais vivo que nunca.

Fonte: http://wol.jw.org/pt/wol/d/r5/lp-t/102000410?q=epidauro&p=par



5 comentários:

  1. Parabéns... Excelente texto!!

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  2. Parabéns pelo texto, que, como já dito acima, está excelente! Eu só sugeriria, se me permite, que fosse colocada a fotografia do Teatro de Epidauro, porque a foto que ilustra o texto é do Teatro de Herodes, que fica aos pés da Acrópole, em Atenas.

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  3. me ajudou muito no meu trabalho amei!

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  4. Caro autor,
    Admiro como seu texto é informativo e eloquente. Mais um parabéns somente encheria ainda mais sua caixinha de elogio, mas de fato, a narrativa foi ótima! Contudo, careço de mais uma informação: Qual foi sua fonte/referência??
    Ficarei de olho na página a espera de sua resposta.
    Obrigada.

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  5. Cara leitora, bom dia! Muto obrigado pelo seu comentário e, em resposta ao seu questionamento, informo que muitas das referências históricas e detalhes arquitetônicos do Teatro de Epidauro foram extraidos de uma revista de circulação gratuita chamada Despertai, publicada pelas Testemunhas de Jeová, ainda em circulação, mas que, atualmente, mudou um pouco sua linha editorial. No entanto, mesmo com essa modificação, não deixa de ser uma excelente leitura. Contudo, em que pese tais informações terem se originado de uma fonte, é bom esclarecer que algumas impressões pessoais foram inseridas no texto. Espero que seu questionamento tenha sido atendido a contento.

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